A cidade é atraente e sedutora. É um espaço privilegiado na lógica do mercado: “fora do mercado não há salvação!”. Apresenta-se como lugar de muitas possibilidades: de trabalho, educação, lazer, tratamento de saúde e escolhas políticas e religiosas. É lugar de chegada de migrantes e espaço de encontros de diferentes culturas e de gerações.
Um olhar mais atento sobre a distribuição geográfica e organização social de seus moradores, revela, no entanto, uma cidade desigual, com suas contradições expressas nas diferentes condições de moradia, de educação, de saúde e de transporte, bem como nos diferentes índices de violência e expectativa de vida em cada uma de suas regiões.
Destaca-se ainda, na vida da cidade, a pluralidade de religiões e de igrejas e ainda as diferentes formas de se viver a espiritualidade. Dados do último censo indicam que a pertença a diferentes igrejas e religiões e o número dos que se declaram sem religião tem mudado significativamente nos últimos anos. Outro aspecto importante é o fenômeno da dupla ou múltipla pertença religiosa, como estratégia utilizada pelas pessoas para viverem a sua fé e espiritualidade de forma mais flexível.
Há uma disputa acirrada no campo religioso para arregimentar fieis. Utiliza-se das mídias, especialmente as televisivas e radiofônicas, mas também das pregações nas praças e das visitas às casas. As mídias, junto às redes digitais, têm sido instrumentos de convencimento não só religioso e espiritual, mas de escolhas políticas, com argumentos baseados em perspectivas fundamentalistas.
Nos últimos tempos, estas mídias têm alimentado e incentivado, com imagens e discursos repetitivos, atitudes violentas das pessoas. Tem justificado a violência institucional e a quebra de legalidade como solução para os problemas sociais e também propagado o discurso de ódio e de preconceito contra os “diferentes” e os mais vulneráveis da sociedade. Como exemplo concreto desta violência, temos a destruição de espaços de culto de religiões de matriz africana, ocorrida recentemente.
Não se pode entender hoje o campo religioso nas cidades sem o aprofundamento da lógica do mercado e dos interesses políticos e econômicos que estão em jogo.
Diante deste cenário, é preciso compreender as causas das mudanças de igrejas e de religiões e o crescimento do número de pessoas que se apresentam como “sem religião”.
É preciso voltar a atenção para as diferentes formas de se viver a espiritualidade na cidade e compreender como isso contribui para que as pessoas vivam plenamente a sua subjetividade e se fortaleçam para seguir adiante com seus projetos de vida numa perspectiva libertadora.
O Curso de Verão 2020, com o tema Espiritualidades na ddade: por uma dimensão libertadora oferecerá o estudo e o aprofundamento teórico-metodológico acerca das igrejas e religiões presentes na cidade, a partilha de experiências de espiritualidades das/os participantes e voluntárias/os e a vivência ecumênica e inter-religiosa respeitosa de cada uma das igrejas e religiões e das pessoas sem religião. A arte, no curso, faz-se presente como parte da Metodologia da Educação Popular e como expressão singular dos sentimentos e crenças espirituais.