O Curso de Verão, promovido pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular (CESEEP), já é realizado há mais de três décadas, chegando neste ano de 2024 à sua 37ª edição. O Curso só é possível porque se fundamenta sobre cinco pilares, a saber: Mutirão, Arte, Educação Popular, Mística e Cuidado.
Ao abordar o tema “Trabalho como direito: por vida digna e justiça social”, o Curso não poderia deixar de tratar da realidade do trabalho de quem vive profissionalmente da Arte e também do papel da Arte na vida do ser humano e dos(as) trabalhadores(as).
A função da Arte é “ajudar a olhar” o mundo, uma vez que ela não é adorno, não é enfeite… Ante, é um dos pés da mesa, que fortalece, sustenta, alimenta as emoções e toca em lugares, onde a razão e a reflexão não conseguem chegar. A Arte desperta os sentidos, sensibiliza e provoca; a Arte é um instrumento de libertação e de luta. Por isso, todo ser humano é um artista.
Consequentemente, para tratar do tema “Música e trabalho: resistência e esperança na voz do povo”, a coordenação do Curso de Verão convidou dois artistas da caminhada: Maria de Jesus Campos Sousa e João Mário Sales da Silva para fazerem a assessoria do 4º dia do Curso, domingo, 7 de janeiro.
Ao apresentar o tema proposto, Maria de Jesus e João Mário compartilharam as suas experiências pessoais com relação à música e ao engajamento nos movimentos sociais.
A música perpassa toda a vida humana, desde o seu nascimento a criança já está inserida em um ambiente sonorizado e musical. Assim, a música marca a vida do povo e, em particular, do Curso de Verão. A música marca a identidade comunitária e social e está presente na vida cotidiana.
Maria de Jesus convidou os cursistas a refletirem que “a música sempre teve um papel fundamental nas comunidades humanas. Tem sido uma ferramenta poderosa na luta por justiça e igualdade. Ela é capaz de sensibilizar e mobilizar as pessoas em torno de causas sociais e políticas, criando uma cultura de resistência e fortalecimento dos movimentos sociais. Desde os cantos de trabalho nas comunidades camponesas até o rap de protesto nas favelas e periferias, a música é uma forma legítima de expressão coletiva, que reflete a cultura, a memória, os anseios e as lutas do povo”.
João Mário enfatizou a que existem muitas expressões artísticas de resistência e utopia, que constituem uma verdadeira história de luta: “a música é uma forma potencial de busca da liberdade e tem a função de expressar diferentes sentimentos ou desejos, sendo inclusive ferramenta de mudança, reflexão e transformação, abrindo os olhos das pessoas para a realidade”.
Ambos recordaram diversos artistas e grupos que são expressão da música de protesto no Brasil e na América Latina que “ecoa até hoje nas vozes das populações organizadas”: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, o Movimento Punk Rock, Violeta Parra, Mercedes Sosa, Victor Jara, Daniel Viglietti, Quilapayún, Capital Inicial, Joelho de porco, Plebe Rude, e tantos outros e outras.
Depois de cantarem diversas músicas juntamente com os participantes, Maria de Jesus e João Mário concluíram afirmando que “a música de resistência é uma forma de arte profundamente enraizada na cultura e na história da América Latina. Desde os tempos coloniais até os dias atuais, a música tem sido uma ferramenta importante para denunciar problemas sociais e engajar o povo na luta por direitos em vários países da região”.
No final da manhã foi feito o lançamento do livro “Os segredos do nosso encanto: o que a fé cristã pode aprender com as espiritualidades indígenas e africanas”, de Marcelo Barros de Sousa, monge beneditino, escritor e teólogo. “As culturas originárias e afrodescendentes têm muito a nos ensinar sobre como reviver o encanto que existe nas relações humanas, no compromisso da cidadania e no cuidado com a mãe-Terra. As espiritualidades originárias ligam tudo isso ao Mistério Maior”, disse Marcelo ao apresentar o seu livro.
Jorge Demarchi
Equipe de Comunicação