Ao final do Curso de Verão 2023, realizado de 05 a 14 de janeiro de 2023 e que teve como tema EDUCAR PARA UM MUNDO SOCIAL E RACIALMENTE JUSTO, os/as participantes e as coordenações de cada Roda de Conversa e demais equipes voluntárias do curso, elaboraram uma Carta Compromisso.
Esta carta expressa, a partir dos conteúdos e experiências partilhadas, o comprometimento com continuidade ou início de ações motivadas pela reflexão e pela postura de militância sociopolítica e pastoral de cada pessoa que participou desse mutirão de formação ecumênica e popular.
“Pedimos que nos ajudem a divulgar a Carta, com o intuito de que um maior número pessoas possam conhecer mais sobre o tema e comprometer-se com a causa”, enfatizou o padre José Oscar Beozzo, coordenador geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP).
Leia, abaixo, a íntegra da Carta Compromisso do 36º Curso de Verão:
CARTA COMPROMISSO: 36º CURSO DE VERÃO (2023 – ONLINE)
Celebramos, com alegria e na ação de graças a Deus, o privilégio de partilhar as muitas experiências e saberes trazidos pelos participantes, voluntários/as, assessores/as, artistas e músicos, para o mutirão do 36º Curso de Verão, ocorrido de 05 a 14 de janeiro de 2023: EDUCAR PARA UM MUNDO SOCIAL E RACIALMENTE JUSTO.
Contrapondo-se aos discursos de ódio e violência, o Papa Francisco convidou-nos a acrescentar um novo conteúdo – fraternidade – à nossa prática educativa: “A educação é um ato de amor que ilumina o caminho para que recuperemos o entendimento da fraternidade, para que não ignoremos os mais vulneráveis”.
Na abertura do Curso, a Reitora da PUC-SP, Professora Maria Amália Pie Abib Andery e o Presidente do CESEEP, Wagner Lopes Sanchez, saudaram os/as participantes, com votos de reencontro presencial em janeiro de 2024 na PUC-SP.
O Curso foi novamente oferecido no formato online, em duas modalidades: à noite, com palestras e momentos de mística, música, arte, debate e intercâmbio, via chat e, pelas manhãs, com as Rodas de conversa. Numa das noites, os participantes inscreveram-se para uma das quinze Mesas temáticas. Ali, foram partilhadas iniciativas significativas e inovadoras para a superação do racismo, das desigualdades, para a prática da acolhida ao pluralismo cultural e religioso e para a consolidação do cuidado com a nossa Casa comum.
A cada noite, o Curso foi acompanhado, diretamente, por mais de 200 participantes. Outras dez mil pessoas não inscritas acessaram ao longo desses mesmos dias, as transmissões pelos canais do Facebook, Instagram e o YouTube, ou noutros horários, os vídeos postados no site do CESEEP.
O autor da capa do livro, Fernando Marinho dialogou com os presentes sobre a inspiração que guiou a sua composição. Foi prestada carinhosa e sentida homenagem à Adélia de Carvalho, nossa companheira de tantos anos e de contribuição artística tão rica. Os pilares do Curso de Verão: a educação popular, o mutirão, a arte e o cuidado foram retomados ao longo das noites.
Os COMPROMISSOS ASSUMIDOS, pessoal e comunitariamente, pelos cursistas foram aglutinados ao redor de três eixos:
1. PESSOAL E FAMILIAR
– Fortalecer laços familiares de respeito e diálogo, para reconhecer os direitos e superar preconceitos em relação a pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+ e eliminar, na vida quotidiana, palavras e atitudes de cunho racista.
– Investir na autoformação e reflexão coletiva numa perspectiva antirracista; conhecer pensadores negros e indígenas e de outros grupos chamados de “minoritários”.
– Organizar a vida pessoal e familiar a partir de necessidades reais e do consumo consciente, comprometidos com a preservação da natureza e a partilha do pão com as pessoas empobrecidas e vulnerabilizadas.
– Acolher afetivamente as dores, queixas e demandas de pessoas em situação de vulnerabilidade, em sua vida pessoal e familiar; fazer visitas às pessoas necessitadas; batalhar por seu atendimento público e comunitário, com terapias integrativas.
2. SÓCIO-POLÍTICO
– Compartilhar os conhecimentos e vivências do Curso de Verão para a construção de uma sociedade igualitária e antirracista.
– Fortalecer as Escolas de Fé e Política, as Escolas de Cidadania, participar dos Conselhos de Direitos e fazer parte de movimentos sociais e partidos políticos.
– Acompanhar as ações políticas da gestão governamental, executiva e legislativa, nas três esferas: municipal, estadual e federal.
– Reconhecer as raízes e os frutos do racismo estrutural e, juntos/as, direcionar as ações para defender, apoiar e ajudar as pessoas na afirmação de suas identidades próprias.
– Lutar pela democratização do acesso à informação, para que que todas as pessoas possam ter, com rapidez, informação qualificada, de modo que possam assegurar seus direitos e os das demais pessoas.
– Participar de encontros dialógicos, em que estejam presentes “bandeiras” de diferentes causas sociais para a defesa da democracia, dos direitos humanos e da justiça social e para fortalecer as pautas criativas das resistências populares.
– Promover encontros literários com foco na educação antirracista, com bibliotecas comunitárias, clubes de leitura, saraus periféricos e outras iniciativas culturais.
– Incentivar e divulgar criações artísticas e literárias coletivas, com vivências pessoais e de movimentos sociais.
– Implementar e fortalecer programas e processos cidadãos, plurais e laicos de educação humanizadora.
– Criar espaços de comunicação que denunciem a violação dos direitos dos povos originários e tradicionais, apoiem o direito a seus territórios e ao desenvolvimento de uma educação a partir de suas culturas, crenças religiosas, línguas e costumes.
– Lutar por uma Política Pública de Educação Intercultural nas escolas em todos os níveis, com presença de comunidades dos diferentes povos indígenas para compartilharem suas cosmovisões, sua arte e seus costumes.
– Promover a participação em grupos de reflexão e ação em prol dos direitos dos negros, indígenas, mulheres marginalizadas, LGBTQIA+, para reforçar a consciência e o compromisso com a igualdade racial e de gênero, a diversidade cultural e religiosa e a justiça social e ambiental, com o cumprimento das leis federais que garantem esses direitos na esfera da educação (Lei 12.711; Lei 10.639; Lei 11.645).
– Incluir direitos humanos e cuidado do meio ambiente e a mudança climática, como temas transversais na educação popular, na educação básica e superior.
– Lutar para que se implemente: a) reforma tributária, em que os ricos paguem mais impostos sobre seus lucros e dividendos e que estes sejam revertidos na implementação de políticas públicas em favor dos mais pobres e vulneráveis; b) revogação imediata da Emenda Constitucional nº 95, que congelou o os investimentos sociais em saúde, educação, moradia, por vinte anos; c) programas que garantam direitos fundamentais, como investimento público no pequeno produtor rural, moradia popular, saúde e educação para grupos social e economicamente vulneráveis, com especial atenção às famílias que tenham membros autistas ou com alguma outra limitação física ou mental.
3. COMUNITÁRIO E PASTORAL
– Estruturar a vida da comunidade, aproximando-a da realidade da população em situação de rua, afim de que sejam reconhecidos como sujeitos, como filhos/as de Deus, agindo de forma missionária, evangélica e libertadora.
– Enfrentar o racismo presente dentro das comunidades e, com elas e a partir delas, ser agente vigilante da dignidade humana.
– Nas escolas e nas comunidades religiosas, buscar uma acolhida mais saudável dos saberes que vêm do campo religioso afro-indígena, para promover uma educação ecumênica e inter-religiosa, que desperte o respeito à diversidade e espiritualidade plural.
– Utilizar, na formação, metodologias e conteúdo da sabedoria popular/comunitária e produzir material didático de combate ao racismo religioso nas escolas, na sociedade e nas Igrejas.
– Unir, ao senso de caridade, muito presente na religiosidade popular e ao empenho pela CF 2023, Fraternidade e Fome, a opção pela construção de maior justiça social, racial e ambiental.
– Romper com o medo de se falar nos espaços religiosos sobre o mal que o racismo, o preconceito e as xenofobias provocam na vida das crianças, jovens e adultos e, inclusive, das autoridades religiosas negras.
– Promover celebrações litúrgicas que valorizem as culturas silenciadas e ampliar o contato com outras Igrejas e religiões, abrindo caminhos para mais diálogo e conhecimento.
– Seguir Jesus na sua prática educativa curativa, inclusiva e libertadora.
– Insistir para ampla e persistente conscientização no campo religioso, especialmente na catequese e aulas de religião e homilias sobre a importância da educação para um mundo social e racialmente justo.
CONVITE / CONVOCAÇÃO CV 2024
Todos/as participantes deste Curso estão convidados/as convocados/as para o reencontro PRESENCIAL, de 05 a 14 de janeiro de 2024, nos espaços do TUCA e da PUC, para o 37º Curso de Verão, cujo tema será em torno às novas realidades e desafios do Trabalho humano.
São Paulo, 14 de janeiro de 2023.
Acesse o arquivo em PDF da Carta Compromisso, clicando aqui.