Na manhã do dia 12 de janeiro, o sociólogo Américo Sampaio apresentou aos participantes do 32º Curso de Verão 2019 o tema “Por uma cidade justa, humana e popular – os desafios para a redução das desigualdades territoriais, sociais e na mobilidade urbana em São Paulo”. Na abertura da sua explanação, ele deixou claro que utilizará os dados alarmantes presentes na 9ª Pesquisa sobre Mobilidade Urbana de 2015, realizada pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência.
Américo destacou que São Paulo é uma das cidades mais ricas do planeta, assume o 4º lugar no ranking de orçamento público do país, porém, no tocante a igualdade e justiça social, ela ocupa as piores posições. Torna-se notório os gritantes índices de desigualdades territoriais, sociais e na mobilidade urbana. Salientou que, diante dos dados colhidos nessa pesquisa, precisamos entender que a desigualdade não acontece de forma neutra, ela tem cor e endereço, ou seja, ela afeta diretamente os negros e pardos, as periferias.
“Se a desigualdade na cidade de São Paulo afetasse mais os brancos e as regiões centrais com certeza a sociedade prestaria mais atenção”, enfatiza Sampaio, quando refuta na sua análise a necessidade de combatermos a naturalização da desigualdade, muitas vezes justificada pela ausência de planejamento. Na verdade, o que temos na cidade de São Paulo é um planejamento desenvolvido pela classe dominante que mantém uma desigualdade planejada, onde a população periférica jamais terá acesso a uma qualidade de vida.
Diante dessa análise do mapa da desigualdade, Américo afirma que “os ricos se auto-segregam para garantirem a qualidade de vida e entendem a convivência como ideia de serviço e não de conviver juntos”. No tocante à migração é visível que o acolhimento está cravado pela desigualdade, basta observarmos que a classe dominante nega ou ignora a existência dos migrantes, como também diante desta desigualdade nós nos tornamos migrantes na própria cidade em que moramos.
Sampaio alerta para que, diante da constatação de que a desigualdade social é um projeto pensado e organizado, devemos lutar por Políticas Públicas, estar atentos às decisões e aos controles dos poderes públicos, mas é importantíssimo entender que a luta deve ser por projetos que nasçam da coletividade, de um padrão de convivência. “Sabemos que a classe dominante precisa de um choque de humanização, de inversão de prioridades. Quem mora nos centros terá que pagar pelos privilégios, e todos eles deverão chegar também as periferias”.
Américo Sampaio encerra sua assessoria falando sobre o direito fundamental de se locomover pela cidade. “Como a cidade foi planejada para o não-convívio a mobilidade urbana, principalmente o transporte público, também sofre com o projeto de desenvolvimento desigual”. O processo de privatização e precariedade de serviços, mesmo diante de uma tarifa tão cara, causa muitos sofrimentos, principalmente aos que moram nos bairros periféricos. Frente à lotação e ao preço da tarifa a tendência passa a ser o abandono do transporte público para usar cada vez mais o privado. “Cabe a todos nós lutarmos por uma mudança radical do modo de como estamos planejando nossa cidade. Precisamos de um projeto de desenvolvimento com centralidade na periferia”.
Frei Zeca / Comunicação / CV2019