O tema da assessoria – “Entre Babel e Nova Jerusalém: reflexões sobre outra cidade possível” – relacionou duas imagens bíblicas que podem ajudar a compreender e transformar a realidade atual.
A Bíblia deixou um forte legado de imagens, símbolos, e narrativas que ajudam a entender o momento atual, uma vez que a cultura ocidental é fortemente influenciada por essas imagens e narrativas. É preciso, portanto, revisitar o texto bíblico, com suas narrativas e imagens, para interpretar melhor a realidade atual. A Bíblia não é um texto apenas religioso, e sim cultural, com forte conteúdo político, que está sendo usado por certas pessoas para influenciar, ocultar a realidade e defender seus interesses.
As imagens da “Torre de Babel” (Gn 11,1-9) e da “Nova Jerusalém (Ap 20-21) são muito conhecidas divulgadas. Ambas apresentam dimensões diferentes da cidade.
A palavra “apocalipse” significa “descortinar, retirar o véu, revelar”. A pandemia também veio para desmascarar a realidade que vivemos. O coronavirus descortinou uma realidade, que a partir da ideologia dominante, não permitia a gente ver a realidade como de fato ela é.
A Torre de Babel
Na narrativa da Torre de Babel, o texto afirma que “a terra inteira tinha uma só língua” e que os sujeitos, que aparecem sempre no plural (“façamos”), vão para a planície de Senaar, onde se estabelecem e decidem fazer tijolos e construir uma cidade e uma torre que chegue até o céu.
Em geral o texto é interpretado tendo como sujeito toda a humanidade, olhando, contudo, com mais atenção, percebe-se que não é toda a humanidade que deseja construir uma cidade. Na verdade, o texto revela a tendência de alguns grupos construírem cidades-estados para dominar sobre outros grupos, sobretudo, as pequenas comunidades e clãs. A torre é o grande símbolo da militarização das cidades-estados do passado. O projeto era unificar para dominar e controlar. Deus confunde as línguas para garantir a multiplicidade, a diversidade.
A Nova Jerusalém
No livro do Apocalipse aparece outra imagem de cidade, a “Nova Jerusalém”. O texto se inicia “Vi então um novo céu e uma nova terra… Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus… Esta é a morada de Deus-com-os-homens” (Ap 21,1-3).
Essa nova cidade é uma oposição à dominação exercida por Roma, que oprimia e dominava os outros povos. Inclusive o autor do texto afirma que encontra-se preso na ilha de Patmos.
Para surgir a nova cidade, foi necessário destruir a antiga cidade que dominava e que era marcada pelo pecado: “Babilônia”. Essa nova cidade será sem mar, sem templo e sem lágrimas.
No texto, o “mar” simboliza o poder dominador do mal. As forças dominadoras que, geralmente, chegavam pelo mar. Portanto, uma terra sem mal, onde não se permita que o mal se alastre.
Será uma cidade sem “templo”. Não é uma cidade sem Deus e sem o sagrado, mas Deus e o sagrado estão em todos e em todo o tempo. Deus mora na cidade junto com os homens e por isso não precisará mais de templo. O que João quer negar é o templo como símbolo do uso dominador da religião.
Será uma cidade sem “lágrimas”, pois não haverá mais morte, nem dor, nem luto.
“Acredito que seja possível a construção de uma nova cidade. Devemos ser co-criadoras e co-criadores dessa nova terra, A nova cidade é possível. No meio desta Babel em que vivemos, é possível construir um novo céu e uma nova terra. É possível construir uma nova realidade, como foi possível construir este Curso de Verão em meio a pandemia. Uma nova cidade é possível”, concluiu Odja.