Ocorreu na tarde de ontem, dia 9 de janeiro, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), a abertura do 32° Curso de Verão.
Uma estação ferroviária foi o cenário que norteou a celebração e conduziu os cursistas e demais presentes no auditório do teatro da PUC-SP à reflexão sobre o tema do curso de 2019: “Por uma cidade acolhedora: somos todos migrantes”.
Intercalando encenações, poemas e músicas como “Disparada” de Geraldo Vandré – “Prepare o seu coração/ Pras coisas que eu vou contar/ Eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão / E posso não lhe agradar” – a equipe da celebração promoveu integração e acolhimento entre o público.
Dentre as encenações na Estação foi destaque o momento em que três migrantes compartilharam suas histórias.
Raúl de Amorin Pires, natural de Portugal, chegou ao Brasil ainda muito jovem, para morar com seu avô. Órfão de pai, deixou em seu país uma irmã e sua mãe, que só reencontrou 38 anos depois. “Mas quando abracei minha mãe, senti aquilo que muitos migrantes sentem, depois de muito tempo sem ver seu ente querido. Foi um abraço sem laço”, desabafou.
A celebração seguiu com um momento de concentração. Todos foram convidados a pensar sobre os direitos (de cada pessoa) de ir e vir. E encorajados a se colocar no lugar do outro, assumindo que todos e todas somos migrantes, criando uma atmosfera de acolhimento. De modo que se sentissem acolhedores e acolhidos, repetindo, em voz alta, as seguintes palavras uns para os outros: “Te recebo de mãos abertas. Meu amor por ti é como amor de filho e filha. Te acolho no meu coração. No meu colo. Na minha essência. No meu ser”.
Neste ritmo de contemplação de acolhida, a coordenadora do Curso de Verão, Cecília Bernadete Franco, após agradecer todos os envolvidos no mutirão que tornam possível a realização do Curso – voluntários, assessores, instituições e seus representantes, e cursistas, inclusive, vindos de várias regiões do Brasil e de outros países da América Latina – declarou aberto oficialmente o 32° Curso de Verão na cidade de São Paulo/SP.
Ausência do Padre Beozzo
Pela primeira vez, desde 1988, o Padre José Oscar Beozzo, coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP) e idealizador do Curso de Verão, por motivo de saúde, está ausente fisicamente do evento.
Lourdes de Fátima Paschoaletto Possani, mais conhecida como Lurdinha, assumiu interinamente a coordenação do CESEEP até o retorno do Padre Beozzo às suas funções.
Em sua fala, Lurdinha relembrou a importante e efetiva participação do Padre Beozzo na criação e realização deste Curso. “Não teríamos o Curso de Verão hoje se não fosse a garra, a persistência, a insistência e a coragem do Padre Beozzo”. Em agradecimento pela existência do curso prosseguiu: “Agradecemos por termos a possibilidade de estarmos aqui discutindo este tema [Por uma cidade acolhedora: somos todos migrantes], estar na presença de vocês e ter esta vivência ecumênica e popular”.
Mesa de abertura oficial do 32° Curso de Verão
Estiveram presentes na mesa de abertura o Prof. Me. Antônio Carlos Malheiros (pró-reitor da PUC-SP e representante da Exma. Reitora da PUC, Profa. Dra. Maria Amália Pie Abib Andery), Padre Benedito Ferraro (Prof. da PUC Campinas e Presidente do CESEEP), Pastora Haidi Jarschel (Profa. Universitária e Tesoureira do CESEEP), Prof. Dr. Wagner Lopes Sanchez (Prof. da PUC e Secretário da diretoria CESEEP) e Dom Flávio Irala (Bispo Anglicano – Presidente do Centro e Apoio Pastoral do Migrante – CAMI).
Iniciando a participação dos integrantes à mesa, o pró-reitor Malheiros falou diretamente aos cursistas: “Neste tempo que estamos convivendo com tantas injustiças, tantas coisas estranhas, vocês significam para nós todos o que existe de melhor em matéria de resistência”.
A Pastora Haidi compartilhou sua emoção ao ver o painel do artista Guto Godoy, em destaque no palco do TUCA, que retrata o menino sírio encontrado morto em uma praia da Turquia e que virou símbolo da crise migratória. E reforçando que todos somos migrantes disse: “Desejo que nós aqui mantenhamos um verbo que inventamos – no Brasil costumamos inventar muita coisa legal – que é o ‘esperançar’ e o verbo resistir, para que a gente faça um planeta sem cercas e sem fronteiras”.
Recordando o incêndio que atingiu o TUCA, em represaria a atuação da PUC e da Igreja na cidade de São Paulo, durante o período militar, o Professor Wagner avigorou: “O Curso de Verão é espaço de esperança para a gente realimentar a coragem”.
Dom Flávio, além de levar o acolhimento do CAMI e defender que o migrante deseja e precisa de uma cidade acolhedora que o respeite e o dê possibilidades, pontuou: “Ao discutir esse tema, o Curso de Verão vai dar uma grande contribuição pra que a gente possa aprofundar mais o estudo sobre a causa migratória e sobretudo, a gente possa dar mais visibilidade à causa”.
Desejando boas-vindas aos cursistas, Padre Ferraro compartilhou: “Que possamos, como acabamos de ouvir, superar o momento muito duro do nosso Brasil. Nada melhor do que fazendo dentro do TUCA que já representa, há muitos anos, a dinâmica da resistência e ao mesmo tempo da esperança”. Com o intuito de despertar nos cursistas o desejo do aprofundamento, prosseguiu fazendo uma leitura composta por fragmentos dos textos produzidos pelos assessores e que compõem o livro “Por uma cidade acolhedora: somos todos migrantes” e que será base para as oficinas e palestras do Curso de Verão 2019.
A tarde do primeiro dia de curso foi encerrada com uma breve explanação sobre os quatro eixos do curso de verão: educação popular, ecumenismo e diálogo inter-religioso, arte e mutirão. O momento foi realizado por monitores que integram a equipe voluntária do Curso de Verão.
Ira Romão / Comunicação / CV2019