“Cuidar da casa comum: por uma cidade sustentável” é o tema da primeira edição em formato online deste curso ecumênico, que acontecerá do dia 07 a 13 de janeiro de 2021
por Ira Romão
“Compromisso inarredável”. Foi assim que Padre José Oscar Beozzo sintetizou a realização do Curso de Verão 2021 no formato online. Devido à pandemia do coronavírus, será a primeira vez, desde 1988, que o Curso não acontecerá de forma presencial.
Padre Beozzo é coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP) e um dos idealizadores do Curso de Verão que ocorre todo início de ano na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Com uma programação de nove dias, ele oferece aos cursistas formação básica e ecumênica no campo bíblico, teológico e pastoral.
Em 2020, embora a pandemia tenha intensificado os desafios para todos, tanto na esfera individual quanto nos meios coletivos, o mutirão que constrói o Curso por meio de encontros de formação ao longo do ano migrou as atividades para o virtual.
Pela primeira vez, o Curso de Verão foi preparado sem encontros presenciais, sem troca de abraços entre os voluntários e sem poder reunir em um único lugar pessoas de diferentes culturas e religiões para um momento de mística. Apesar disso, os voluntários prepararam a próxima edição do curso que acontecerá, excepcionalmente, online e em seis dias, de 07 a 13 de janeiro de 2021.
O coordenador do CESEEP pontuou que esse esforço é reflexo do compromisso de vida assumido por todos os que contribuem para a realização do curso. “Esse foi um compromisso muito forte da gente oferecer um espaço de formação, mas também de alento e de alimento para as pessoas que lutam o ano inteiro”.
“Cuidar da casa comum: por uma cidade sustentável” é o tema de 2021 e encerrará um bloco de três anos, em que o foco do curso foi trabalhar temáticas relacionadas à cidade. Em 2019 foi discutido “a cidade e as migrações” e em 2020 “a cidade e a espiritualidade”.
Todo ano o CESEEP compila o conteúdo do curso em um livro que passa a integrar a Coleção Teologia Popular. Sobre a edição deste ano, Pe. Beozzo destacou um tópico da apresentação que para ele é um chamado importante, pontuando que embora a pandemia tenha colocado tudo de pernas para o ar, temos que recomeçar.
“Quando a gente pensa em cidade, podemos olhar muitos aspectos. Mas o Papa Francisco escreveu há pouco dizendo que quando se trata de recomeçar, sempre tem que ser a partir dos últimos. Então nós temos que olhar aqueles que na atual estrutura da cidade foram jogados para a ponta da periferia onde não tem nada. Onde não tem transporte, onde a água não chega direito, onde não tem tratamento de esgoto e não tem escola”, disse.
O Padre ressaltou ainda a perspectiva da 34ª edição do Curso de Verão. “Nós vamos tratar da cidade e pensar sua reconstrução a partir dos últimos, dos renegados, abandonados, esquecidos e dos empurrados para viver no meio da rua”.
O conteúdo do Curso de Verão e a Campanha da Fraternidade (CF)
Dividido em três seções, a primeira parte do livro da formação mapeia a realidade, a segunda é amparada pela Bíblia e a teologia, já a terceira está ligada à pastoral. Nesta última entra a reflexão sobre a Campanha da Fraternidade que neste ano será uma campanha ecumênica cujo tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”.
Na 34ª edição do Curso, a CF será abordada na assessoria da Pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Romi Bencke.
Padre Beozzo disse que a Campanha sempre teve um significado muito importante para o Curso de Verão. “O principal é ela dizer que a gente não está aqui só pra refletir. Temos que fazer alguma coisa. Ela sempre coloca um tema pertinente e o que devemos fazer. Sempre termina em cima de um agir”.
Duas novas seções foram acrescentadas ao livro deste ano. Um traz relatos de pessoas que estão fazendo algo para tentar superar a atual situação de pandemia e a outra é um espaço de memória, homenageando pessoas que ajudaram a construir o Curso de Verão, mas que partiram deste mundo.
A formação em tempo de pandemia
Nesta edição, a programação do Curso de Verão ocorrerá em seis dias com momentos abertos, palestras, mística, assessoria, arte e diálogo, além de momentos para reflexão em pequenos grupos.
O formato online oferece aos cursistas duas possibilidades de participação. A primeira contempla as assessorias que ocorrerão no período da noite e as rodas de conversas que serão realizadas pela manhã. A segunda opção dá acesso somente às palestras noturnas. Ambas incluem o recebimento do livro. No total, serão seis noites de assessorias e 20 rodas de conversas.
“Terá um momento de mística e de arte porque a gente quis guardar o rosto do Curso de Verão. E espaço de oração ecumênica e do conteúdo, mas também da interação dos aprendizados com arte, beleza e música”, completou Pe. Beozzo.
Para saber valores, formas de pagamentos e outras informações, acesse o site do evento: www.cursodeverao.com.
34 edições da formação
Educação Popular, Ecumenismo, Mutirão e Arte são os pilares desta formação que é realizada em mutirão por diferentes pessoas, comunidades, movimentos populares e instituições educativas e religiosas que de forma voluntária se reúnem ao longo do ano para preparar o conteúdo do ano seguinte e ficam a serviços durante sua realização.
Para Pe. Beozzo a construção em mutirão é o coração do curso. “Cada um traz o seu saber, a sua habilidade. Ao longo desses 34 anos nunca se pagou ninguém. Todo mundo dentro daquilo que São Mateus diz no Evangelho (Mt 10:8), o que vocês receberam de graça, vocês deem de graça”.
Ele também pontuou que o curso é feito de forma ecumênica e de diálogo inter-religioso. “É um espaço de encontro, de formação e de crescimento. Um espaço para aprender com a riqueza do outro, com a diversidade do outro”.
Visando contribuir com a transformação da sociedade, a formação trata também sobre questões sociais emergentes, utilizando a metodologia da Educação Popular de Paulo Freire como base, e questões étnicas e de gênero.
O curso luta para sempre ter alcance nacional, visando contribuir para que as regiões do país se interliguem por meio de trocas de experiências construtivas e inovadoras de cada local. “O Curso de Verão é um grande espaço de informação, articulação, aprendizado mútuo de um Brasil que é muito diferenciado e muito rico culturalmente”, reforçou o sacerdote que também é historiador e pesquisador da história da Igreja.
Sobre a arte como um dos pilares do curso, o idealizador contou que o objetivo da formação sempre foi fazer tudo com leveza, com música e com alegria. “O Curso de Verão é um lugar onde as pessoas se encontram, se alegram e podem trazer também a sua riqueza cultural”, acrescentou.
O formato desse mutirão se espalhou. Atualmente o Curso de Verão não está apenas em São Paulo. O CESEEP integra uma rede de cursos similares à formação de São Paulo e que são realizados em diferentes locais do país, como por exemplo, o “Curso de Verão na Terra do Sol”, que acontece em Fortaleza (CE).