A palavra ”acolher” foi um marco para o domingo, 13, dos cursistas do Curso de Verão 2019. Abraçar as histórias, dores e angústias daqueles que estão perto e principalmente dos que calçam as sandálias e, por algum motivo, chegam de longe.
Reconhecer a humanidade do outro, é sair de um sistema de “coisificação” da vida humana e ver o seu semelhante como gente. Saber que uma pessoa ama, chora, respira o mesmo ar e possui uma infinidade de sonhos e sentimentos guardados no seu íntimo e, muitas das vezes, marcadas em sua pele.
“Salaam Aleikum” (Salamaleico)
“Que a paz esteja sobre vós” (salamaleico), foi a primeira frase que abriu o Círculo de Cultura “Refugiados da República do Mali e da Síria”, com a fala do sírio Abdul Jarour, que logo após, ensinou a responder com a frase: “Waalaikum As-Salaam”, que na tradução significa “E sobre vós, a paz”. O ex-militar partilhou a sua história durante a guerra na Síria, iniciada durante a “Primavera Árabe” em 2010. Além de perder familiares e amigos dos quais teceu relações de vida, enfrentou a tortura de jovens e crianças e toda a luta por sobrevivência. Testemunho que chamou a atenção dos cursistas.
“A Síria sempre foi um país acolhedor de refugiados. Vivíamos um regime socialista que visava à igualdade para todo e qualquer cidadão. Lá, não existiam pessoas em situação de rua, como acontece aqui no Brasil e em outros países. Tudo mudou quando um regime ditador assumiu o poder e bases americanas e russas, instaladas em nosso solo, guerrilharam entre si. Por interesses próprios, vidas foram levadas e a nossa terra nunca mais foi a mesma”.
De mãos dadas na guerrilha
O Círculo de Cultura “Experiência Migrante de Canudos” se inspirou na resistência do povo nordestino, que juntou forças entre negros e indígenas contra o poder opressor, durante a Guerra de Canudos, iniciada em 1896, que marca a queda da monarquia e o início do regime republicano no Brasil.
O convidado José Alonsio dos Santos contou sobre como a história de resistência dos seus antepassados era ocultada pela sociedade, que foi influenciada pelo governo e que não tinha acesso às histórias, conforme passados os anos.
Ele conta que apenas soube da verdadeira história de suas raízes, quando chegou a São Paulo, para tentar uma oportunidade. A quantidade de equipamentos públicos na cidade paulistana facilitou conhecer a história, que tanto foi silenciada durante a vida.
“Nós vencemos o Exército Brasileiro. Índios e negros, que juntaram forças, criaram suas armas e estratégias, de mãos dadas e juntos na guerrilha. Conseguimos desarmá-los, tomar canhões, com tudo feito no coletivo e por nossas próprias mãos. A nossa história não é contada pois resistimos três vezes, sendo na quarta, uma derrota histórica dos militares. O governo, até hoje tem medo da força do povo nordestino”.
Daniel Freitas / Comunicação / CV2019