“Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. / Esperança é o oposto de otimismo. / Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. / Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração”, Rubem Alves.
A noite de sexta-feira, 08, segundo dia do Curso de Verão de 2021, teve início com a leitura dessa instigante poesia de Rubem Alves, realizada pela antropóloga e doutoranda em filosofia, Moema Miranda. Através desta leitura, a assessora fala sobre a potência construtiva que a esperança carrega consigo, mas adverte: “a esperança nos fortalece e guia quando aliada à análise crítica da realidade” e acrescenta: “ a reflexão é necessária. É um compromisso nosso com a época em que estamos vivendo. Uma bússola de como seguimos Jesus de Nazaré”.
Moema ressalta que o ano de 2020 não foi apenas incomum, desafiante, foi um marco estruturante, assim como 1945 – ano em que a Segunda Guerra Mundial chega ao fim. A pandemia do Coronavírus revela e acirra dinâmicas e processos que já vinham acontecendo.
“Não estamos vivendo uma crise socioambiental, mas sim um colapso profundo de estruturas do planeta e de estruturas de governo e de governança de toda a sociedade humana. É um colapso por causa da sua irreversibilidade que coloca em risco a vida no Planeta Terra, Nossa Casa Comum”.
Racismo ambiental
O termo racismo ambiental surgiu nos EUA na década de 1980 e escancara a forma injusta a que algumas comunidades ficam mais expostas ao desequilíbrio socioambiental.
“Embora todos nós paguemos um preço altíssimo, os efeitos do aquecimento global e destruição ambiental não estão distribuídos igualmente. As questões socioambientais afetam de formas desiguais sociedades desiguais, e de maneira ainda mais brutal, os mais pobres”, explica a assessora.
Em sua análise Moema aponta que a forma como a parte mais rica entre os humanos produz, acumula e desperdiça faz com que vários processos degeneradores do planeta se intensifiquem, colocando em risco os modos de vida do conjunto da humanidade e do conjunto de outros seres que compartilham a vida na Terra e que são interdependentes.
‘Diante disso, o que fazer? Como refazer? E como esperançar?’
Ao mesmo tempo em que Moema Miranda provoca o público com esse questionamento, imediatamente ela se apressa em dizer: “não podemos ser meramente otimistas, precisamos olhar para fora e a partir daí esperançar”.
Ela cita como exemplo de ação os milhões de jovens negros americanos que se mobilizaram e tomaram as ruas para dizer que ”Vidas Negras Importam”.
O que fica deste exemplo para a antropóloga são as milhares de novas redes, conexões, grupos, comunidades em pequenos espaços que estão sendo criadas ao redor do mundo. São exemplos de ações que tiram as pessoas do senso comum, da lógica do consumismo individualista que consome e destrói. “Quando deixamos de fazer simplesmente o que o sistema de consumo nos exige a cada instante mostramos que somos comunidade. Ainda que fragmentadas, somos pequenas galileias”.
Rezar e Resistir
Como mais um exemplo aprendido, Moema descreve a frase que leu na camiseta de um jovem em um encontro do qual participou e que ela traz consigo desde então: “Rezar e Resistir”. E explica: “rezar para que Deus nos ajude, nos ilumine e nos inspire. – Resistir, para que saibamos que nós somos responsáveis pelo mundo que queremos, cada um de nós, pois cada um terá que dar uma resposta que atenda ao bem comum: de todos os seres criados. Todos os seres de todos os mundos”.
Para finalizar, os participantes desta formação ecumênica e popular são exortados pela assessora a seguir o chamamento que o Papa Francisco nos faz para sermos profetas e termos a coragem de denunciar e ampliar o processo da conversão integral.
“Cada um de nós tem hoje a possibilidade de ser o melhor que se pode ser. Para isso Deus nos chama pelo nome, para que sejamos o melhor que podemos ser”, finaliza.