Há rostos que não são vistos. Eles calçam as sandálias e saem pelas trincheiras da vida em busca de uma nova oportunidade, de esperançar e encontrar a luz dentro de um sistema escasso de direitos, amorosidade, aconchego e dignidade humana.
Caminhando e cantando pela cidade é possível perceber os traços de dor e angústia, de pessoas que por alguma razão, política ou social, foram obrigados a sair da sua terra natal, do solo que lhe acolheu durante a vida e que germinou histórias, para encontrar refúgio e a se adaptar a uma outra cultura, língua… país. Às vezes, sozinhos, mas em sua maioria, em família, que pode ou não ser biológica, porém, ubuntu, que em sua matriz afro, significa “eu sou o que nós somos”. Que abriga, acolhe e grita da mesma lágrima silenciada. Resistir.
Trilhar caminhos significa sonhar, migrar para florescer em qualquer lugar. Acreditar que um novo mundo é possível e confiar até mesmo quando há dúvidas. É preciso retirar os fones de ouvido que trazem músicas que confortam a nossa mente para ouvir histórias que podem trazer leveza à alma de quem partilha. Conhecer as raízes, dificuldades e humanizar uma vida que teve uma jornada agonizante de opressão, que desde a origem do viver, sentiu o gosto de fel nas mãos daqueles que não abriram mão do poder, da soberania.
Respostas. São respostas que não vieram com o manual de sobrevivência (que jamais existiu), que precisam ser dadas para aqueles que resistem sob o sol e as mais temíveis tempestades. Respostas para quem caminha e não é acolhido e sim vistos como “ameaças”. Respostas a quem persevera para ser visto como gente. Respostas para os milhares de rostos que a bolha diante dos meus olhos ainda não estourou e não são vistos.
Daniel Freitas / Comunicação / CV2019